Alternativa para crise

Se a crise financeira tem dificultado a vida dos brasileiros, gaúchos e das empresas locais, ao menos na relação com outros países os números têm animado empresários e institutos econômicos. No Rio Grande do Sul, por quatro meses consecutivos as exportações têm crescido em valor e volume, conforme aponta a Fundação de Economia e Estatística do RS (FEE).

Segundo dados da entidade, no mês agosto as exportações do Rio Grande do Sul totalizaram US$ 1,749 bilhão, um crescimento de US$ 153,6 milhões em relação a agosto de 2015 (9,6%). O crescimento já havia sido observado em relação a maio e julho. Na próxima quinta-feira (27), a instituição divulga os dados de setembro e a expectativa é de manutenção da tendência.

Para Cezar Müller, coordenador do Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Concex) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), o sucesso das exportações de manufaturados está condicionado à adoção de medidas internas que aumentam a competitividade e a produtividade da indústria nacional.

“Tudo isso somado a uma agenda que prioriza o segmento exportador nas políticas públicas, considerando a exportação uma atividade estratégica para o desenvolvimento e a sustentabilidade da indústria brasileira”, avalia.

Müller também reconhece a valorização do dólar como uma das responsáveis pelo bom momento. “O fator cambial também não pode ser desconsiderado, pois é uma importante ferramenta de competitividade para um país que ainda não conseguiu realizar as reformas estruturantes de longo prazo, como o Brasil”, opina.

A FIERGS vê com bons olhos a adoção e fortalecimento de uma cultura exportadora que facilite a internacionalização dos produtos gaúchos. Para Müller, significa reconhecer que mesmo no mercado interno a empresa sofre com a concorrência internacional, e que sendo assim, a busca por novas oportunidades comerciais e tecnológicas no exterior não é uma escolha, mas sim uma obrigação.
“A internacionalização se faz importante, pois aumenta a lucratividade da empresa no curto prazo, como também propicia os alicerces necessários para ganhos de competitividade a nível local e global, tanto em termos de escala de produção, quanto em termos tecnológicos e culturais”, crê Müller.

Calçados lideram entre os manufaturados

Automóveis e calçados puxam a fila dos manufaturados do RS mais vendidos para o exterior. A indústria calçadista gaúcha, por exemplo, está reagindo e voltando a contratar, graças às exportações. Quase metade dos calçados brasileiros vendidos lá fora são produzidos em fábricas do Rio Grande do Sul. De janeiro até outubro de 2016, foram criadas quatro mil novas vagas no setor.

“Existem sinais bem claros de que passamos o pior momento e que estão dadas condições de recuperação no desempenho do setor calçadista doravante”, analisa o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein.
Só em agosto, foram 10 milhões de pares vendidos para o exterior, um faturamento 27% superior se comparado ao mesmo mês do ano passado.

China vira principal aliado

“A China já é o principal parceiro comercial do Rio Grande do Sul e o momento é extremamente favorável para a diversificação da pauta exportadora para aquele país”, sinaliza Tarson Núñez, Pesquisador em Ciência Política do Centro de Estudos Econômicos e Sociais da FEE.

“Atingimos mais de US$ 4,8 bilhões em 2015 no total exportado para a China e, de janeiro a junho de 2016, quase 26% do total das exportações gaúchas foram para o mercado chinês”, detalha o pesquisador. Trata-se de um crescimento de 17,3% em valor durante os primeiros cinco meses de 2016 em relação a igual período de 2015.

Fonte: G1